Texto elaborado pela professora doutora Vanessa Schweitzer dos Santos.
Os recursos naturais que temos disponíveis e fazemos uso diariamente, seja no âmbito individual ou coletivo, possuem limites. Esses limites respeitam os processos biológicos envolvidos, os quais, nem sempre seguem o tempo hábil de consumo da humanidade.
A degradação da matéria orgânica pelos rios, que recebem diariamente esgoto em seus leitos, é um exemplo disso. Outro exemplo é a ciclagem de nutrientes, realizada pelos solos – os micro-organismos presentes na terra auxiliam na retirada desses nutrientes dos seres vivos em decomposição, retornando os mesmos à porção superior do solo e deixando este fértil novamente. Pode-se citar ainda a disponibilização de alimento, a renovação da qualidade do ar, a polinização e até mesmo os momentos de lazer que a natureza proporciona, como recursos naturais insubstituíveis, que possuem um tempo próprio de reestabilização.
É a organização Global Footprint Network, que trabalha com o conceito da Pegada Ecológica, quem estabelece anualmente o Dia de Sobrecarga da Terra. Este ano a data está estimada em 04 de agosto, pouco depois da metade do ano. No site da Global Footprint é possível verificar a data específica de cada país avaliado.
A partir de dados de diferentes instituições, a iniciativa pondera o consumo dos principais recursos naturais e a biocapacidade do planeta Terra para reestabelecer essas funções. Infelizmente, a humanidade vem “usando o crédito”, e consumindo muito mais do que a natureza é capaz de oferecer.
Uma conta que não fecha – não é possível acelerar os processos biológicos ou alterar a biocapacidade do planeta. Cabe aqui a mesma premissa das finanças: não se pode viver de limite. É preciso buscar alternativas e ajustar o “orçamento” para colocar as contas em dia.
Mas quais ações podemos incluir no nosso cotidiano, para deixar o Dia de Sobrecarga mais distante?
Buscar meios de produção menos impactantes ambientalmente e consumir de maneira sustentável, dentro da biocapacidade do planeta. Nessas duas possibilidades para acertar as contas com os recursos naturais, entram as técnicas de produção mais sustentáveis e também as ações individuais de consumo e descarte adequado dos resíduos.
Se, por um lado, tudo que é produzido exige recursos naturais para a própria manufatura ou nos processos produtivos, por outro, no pós-consumo tudo isso permanece no planeta Terra como resíduo. Fazer escolhas mais sustentáveis na hora da compra, adquirir o que é realmente necessário, reaproveitar quando possível e observar o descarte correto são boas alternativas para sair do negativo, quando o assunto é a biocapacidade da Terra.
No período mais severo da pandemia de Covid-19, principalmente no ano de 2020, essa data chegou a ser mais distante – reflexo do menor consumo e da diminuição do número de pessoas circulando, que acabaram por consumir também menos recursos naturais. Como não temos um “plano B” – esse é o único planeta que conhecemos com capacidade de suporte da vida, é urgente repensar nosso modo de produção, consumo e descarte. Precisamos conciliar o desenvolvimento humano com a biocapacidade do planeta Terra, para “sair do vermelho”!

Texto elaborado pela professora doutora Vanessa Schweitzer dos Santos